De mim mesmo
By Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa
Para Yoani Sánchez
Yoani Sánchez! Yoani
Sánchez!
Peço desculpas aos
cubanos por escrever sobre vocês e o seu país sem nunca ter pisado aí.
Mas gosto de lembrar do meu conterrâneo, o
socialista Rubem Braga, ao visitar Cuba meses depois da vitória da Revolução, escrevendo
o seguinte: Fidel fala muito, mente e não cumpre promessas.
Depois da Polônia de Lech Walesa, da África do Sul de Nelson
Mandela, da Techoeslováquia de Vacláv Havel e do Brasil da Dilma Rousseff, não
é difícil pensar que num futuro não distante Cuba estará sob influência
crescente da pacifista Yoani Sánchez. Não que ela necessite de cargo de
presidência. Na Índia Gandhi também não precisou. Mas é notório que o processo
é este.
As acusações desferidas
contra a Yoani em sua presente passagem pelo Brasil exibem contradições impressionantes.
De um lado, os detratores sem argumentos, repetindo à distância os chavões
castristas: Yoani é mercenária, está a serviço dos EUA, agente da CIA e congêneres.
Do outro, o incensar pura e simples, com denúncias de que governos do Brasil e
de Cuba teriam firmado um plano para desmoralizar ou esvaziar a figura da doce
blogueira.
Não vi em nenhuma das
bandas uma reflexão no estilo doa general comunista Woyciech Jaruzelski: hoje até eu votaria em Lech
Walesa. Especulo que, ao autorizar a viagem de 80 dias de Yoani ao redor das
principais democracias do mundo, Raul Castro assinalou, no plano do seu subconsciente,
um pedido de socorro ou uma anuência íntima: Cuba precisa de todos os cubanos,
a sociedade real não é partido único.
Os indicadores sociais da Cuba de
Fulgencio Batista (tempo das torturas, cassinos e turismo sexual para
americanos) eram impressionantes. O índice de analfabetismo em Cuba era um dos
menores senão o menor da América Latina mesmo antes de Fidel descer a Sierra
Maestra.
Fazendo caricaturas: os Estados Unidos são um
resumo do mundo. O Brasil, um resumo dos Estados Unidos. Cuba, um resumo do
Brasil. Três nações bem diversificadas.
Os Estados Unidos, o pais mais racista, têm o negro Obama comandando
a massa na Casa Branca.
O Brasil, o mais promissor no sentido de inclusão
social de massas de desassistidos, vive hoje na dependência de altos preços de
commodities agrícolas e minerais. Até
quando isso vai ser possível com tantos gargalos na nossa infra e nos
desequilíbrios da carga tributári
E Cuba, a Ilha-Presépio-Última-Esperança-de-um-Jesuscristinho-socialista-para-sempre,
é a situação mais universalmente ditatorial.
Nos tempos de
internet, com acesso livre, essas censuras no Irã, na China e em Cuba vão caindo
por terra a cada semestre – não dá mais para segurar o fluxo de informação nem alegar
que se vive assim por causa do inimigo. Aquela coisa sartreana de o inferno são
os outros, o meu mal é o bloqueio comercial americano, isso não cola mais... Os jovens chegaram...
No romance cubano “Neblinas
del Ayer”, de Leonardo Padura, ambientado já no Século 21, há descrições
surpreendentes de uma Havana que nenhum turista brasileiro conhece. Há bolsões
na charmosa capital caribenha que se assemelham a pequenos morros do Alemão,
lugares onde nem a polícia castrista apita.
O filme Guantanamera, filme cubano de 25 anos atrás, já
mostrava as sementes desse mercado negro e informal ditando regras reais da oferta
e demanda.
Em fins dos anos 80, ou seja, também uns 25 anos atrás, ocorria
um fenômeno pouco noticiado pelos jornais brasileiros da época: nos cinemas em Cuba,
os filmes eram precedidos de uma eterna propaganda política incensando Che
Guevara, Fidel e a Revolução. Mas a garotada, aproveitando o escurinho do
cinema, vaiava e vaiava, e isso constrangia do lanterninha ao comandante Fidel.
Lembro essas coisas
para frisar que o fenômeno Yoani não é algo que eclode agora, que começa agora,
mas simplesmente culmina um longo processo em que cubanos estão amadurecendo
para chegar ao tempo de uma distensão lenta, gradual e segura com um objetivo
pétreo: a redemocratização... Tirem-me tudo, já tiraram, menos a liberdade, também
já tiraram. Então, por favor, devolva-me. Se você não topar...
Mil Yoanis vão se
multiplicar por mil a cada minuto. A oposição cubana não quer derrubar nem matar
Raul. Isso é resquício de velhos anticastristas ridiculamente apoiados pelo Congresso
americano. O oposição quer espaço e
inventa esses espaços para discutir bons caminhos para um reencontro da
sociedade cubana. Yoani e Padura amam Cuba e respeitam o poder de Raul Castro,
não promovem revolução, apenas querem restabelecer a conversa amistosa entre
cubanos sobre as melhores opções para os
próximos anos.
Mas toda essa digressão é para especular que, caso se
confirme aquela primeira especulação, Yoani chegando ao Poder não para acertar
contas, mas para conciliar uma sociedade maravilhosa, o futuro ministro da
Cultura será Leonardo Padura Fuentes.
Eis o que fala secamente o Wikipedia em língua portuguesa
sobre Leonardo Padura (foto), mas de pronto aviso:
li o seu livro ”Neblinas del Ayer”, presente que ganhei de uma amiga
diplomata que serve em Londres e que já esteve pessoalmente com Fidel, e depois
comento a obra...:
Leonardo Padura Fuentes, nascido em Havana, 1955 — ou
simplesmente Leonardo Padura, como é conhecido internacionalmente — é escritor
e jornalista cubano, considerado um dos melhores de seu país.
Padura assumiu a cadeira de literatura latino-americana na
Universidade de Havana. Destacou-se como jornalista investigativo e, depois,
como ensaísta, roteirista e autor de novelas policiais.
Seu livro Paisaje de otoño conquistou o Prêmio Hammett (uma
homenagem a Dashiell Hammett, autor de O Falcão Maltês) da International
Association of Crime Writers — que não deve ser confundido com o prêmio
homônimo concedido pela filial estadunidense da associação a autores nascidos
nos Estados Unidos e Canadá.
Sua tetralogia Las cuatro estaciones, com histórias do
detetive Mario Conde, começou a ser publicada em inglês. Os livros são:
Pasado perfecto
("Havana Blue", 2007), 1991
Vientos de
cuaresma ("Havana Yellow", 2008)), 1994
Mascaras
("Havana Red", 2005), 1997
Paisaje de otoño
("Havana Black", 2006), 1998.
Padura publicou também dois livros subseqüentes apresentando
o detetive Conde: Adios Hemingway e La neblina del ayer Neste momento, Padura
está a finalizar um romance em que os protagonistas são o revolucionário russo
León Trotsky e o seu assassino, Ramón Mercader.
Livros seus já foram traduzidos para o italiano, o alemão e
o português.
Livros de Padura editados em português (Portugal)
Adeus, Hemingway
Morte em Havana
(Máscaras)
A neblina do
passado
Paisagem de Outono
O Romance da Minha
Vida
Um Passado
Perfeito
Ventos de Quaresma
O Homem Que
Gostava De Cães