Dona Canô deixou um Centro de Tratamento
Intensivo em Salvador para passar as últimas horas no Centro de Vida
Intensa, que é a família. Dona Canô não encantou o Brasil porque foi mãe
de uma família numerosa em que se destacam dois artistas de
genialidade exponencial. Não. Dona Canô encantou o Brasil também por
seus encantos de mulher simples, exalando humanidade, generosidade.
Foi-se aos 105 num tempo de tantas mães que se vão na flor da idade. O
tempo não foi propriamente generoso com Dona Canô, curvou-se a ela. Os
médicos não foram cruéis dando-lhe a alta, mas apenas solidários na
decisão de permitir que passasse o último Natal em casa, eternizá-lo no
gesto de optar pela vida, a família, até o instante do derradeiro
adeus.
Por ser uma mãe distante, quer dizer, próxima do Brasil, mas
conhecida de todos nós pelos caminhos inevitáveis do espaço das
celebridades, Dona Canô se tornou uma mãe mítica, tão velhinha quanto
Papai Noel.
Chorei sozinho ao ler a notícia no Google News... Nasceu
o Menino Jesus, nasceu levando uma senhora mãe, mãe também um pouco de
todos nós.
Dona Dilma, por favor, luto oficial já, em pleno Natal,
sim. Tudo ficou triste, enquanto as crianças seguem fazendo o que
precisam fazer e é tão bom neste dia de tantas saudades: brincar com os
presentes do Bom Velhinho...
(Por Alfredo Herkenhoff, Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 2012)