ArtRio 2012
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SHOW
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Texto Alfredo Herkenhoff
Fotos de Ed Sartori
Presentes na abertura da ArtRio pessoas incríveis,
entre famosas e anônimas, todo mundo muito bem vestido, cariocas, brasileiros e
estrangeiros. Elegância a dar com o pau...
Luciano Huck
sem a sua Angélica e sem ninguém a lhe pedir autógrafo ou a lhe encher o saco,
como apenas mais uma estrela no meio de 5 mil brilhando no primeiro dia da
segunda edição da grande festa carioca das artes visuais.
O técnico Carlos Alberto Parreira, que nas horas
vagas é pintor, chegou e foi direto pro primeiro Armazém, aquele que fica mais
perto da Praça Mauá, e é naquele espaço que estão digamos as obras mais
clássicas, as telas mais caras.
De A a Z, todos os grandes saudosos pintores
brasileiros do Século 20 presentes, de Di Cavalcanti a Guignard, de Pancetti a Iberê
Camargo, um luxo só.
Painel de galeria dentro da Feira de 2012
Mas a peça
mais valiosa sem dúvida era uma viva, que ficou lá o tempo todo neste primeiro
Armazém, ficou recebendo artistas, amigos e curiosos. É o marchand Jean Boghici, mas uma
fênix renascendo das cinzas do nosso colecionismo.
A feira em sua segunda edição mais que triplicou com
relação à do ano passado. Ontem foi das 16h às 22h. E foi bem bacana o
lusco-fusco, o anoitecer, as luzes naturais da cidade, do mar da Baía de
Guanabara, barcos pequenos e grandes singrando as águas, a silhueta da Ponte rio
Niterói... Depois as luzes noturnas, uma beleza, charme no ar.
O casseta de la Peña, o Ruy Campos da Livraria da
Travessa, o casal de curadores Rafael e Rafaela Correa, a produtora Suzy Muniz,
artistas como Iole de Freitas, Antônio Dias, Nelson Félix.... Equipes dos
grandes jornais como Globo e Folha, a jornalista-curadora Daniela Name,
coleguinhas de imprensa a granel....
A secretária estadual de cultura do Rio, Adriana
Rattes... Emílio Kalil, o secretário
municipal de cultura do Rio, também presente...
Ao contrário do ano passado, o prefeito Eduardo Paes
não compareceu na abertura. Mas não foi por falta de apoio, muito pelo
contrário, foi pela campanha para a reeleição certa. Podia ter ido. Não
ganharia nem perderia voto.
Curioso é que
a Feira de Arte, embora evento privado, conta com grana pública, municipal e
estadual, conta com apoio até federal. Mas por ser algo particular, um
compra-e-vende, a feira não tem pruridos democráticos ou corporativos. Noutras palavras, a feira decide quem estará
à venda...
Assim,
artistas cujas peças não puderam ser exibidas na ArtRio devem ter ido lá não
com inveja, que eles se sentem todos
como gênios, mas com raiva da tal comissão avaliadora de quem entra e quem não
entra.
Galerias importantes que foram convidadas no ano
passado e fizeram desdém estão presentes na edição de agora. Algumas tiveram de
pagar por seus estandes, algumas ainda
contempladas por convites generosos.
Curioso que vários grandes eventos no Rio dos
últimos anos têm tido lideranças femininas, como a Fashion Week, aquele lance
lá no Forte em Copacabana na recente cúpula ecológica... E assim acontece com a ArtRio, tendo à frente a Elisângela
Valadares e a Brenda Valansi, ambas estão de parabéns, sem nenhum demérito pros
seus novos e dinâmicos sócios do sexo oposto... o Alexandre... Sei lá mais
quem... O Bradesco, o grand monde... O Sistema Globo... A ArtRio já deixa a
feira de São Paulo comendo poeira.
Performance na ArtRio: mulher é sempre mulher
Uma ausência notável no primeiro dia foi a do
colecionador e marchand Cláudio Valansi, que também está de parabéns porque
sempre foi um homem de feiras e porque sempre defendeu a ideia de que o Rio de
Janeiro merecia o que agora tem. E a ArtRio tem o dedo do intrépido e meio
porra-louca do nosso querido Valansi. Me disseram que ele está em Miami... Sei
lá...
No ano
passado, a ArtRio abriu num feriado, e sobrou elogio por isso. Desta vez
inaugurou numa tarde de quarta-feira comum. Daqui de casa em Botafogo até a
Praça Mauá, de táxi, foram 55 minutos de engarrafamento. Porra... Assim não
dá...
Mas a data
escolhida, ontem, foi excelente. Ah! Sim, havia o feriadão da semana passada,
mas os organizadores não queriam nem essa concorrência da possibilidade do ócio
ou do passeio do 7 de Setembro. A data é ótima porque está coincidindo com a
Bienal de São Paulo. Então as duas maiores cidades do Brasil estão em chamas,
um frisson no ar, nunca se viajou tanto artista entre as duas metrópoles. Estava todo mundo lá ontem no cais do Porto.
Gente que faz. Gente criativa do Brasil inteiro.
E a sofisticação reflete a força da ArtRio, com a
presença das melhores galerias do Brasil, das Américas e da Europa. Tenho certeza
de que a terceira edição vai abarcar ainda mais excelência, a Ásia em maior
peso vindo por aí...
A ArtRio, e
ouvi isso de gente categorizada, já não fica nada a dever à Bienal de São Paulo,
apesar de propósitos distintos.
A partir de
hoje até domingo, 30 pratas pra entrar. Creio que os organizadores poderiam
pensar, nas próximas edições, em ampliar
o prazo de exposição e oferecer possibilidades de visitas agendadas de
estudantes a custo zero, claro, essa
adolescentes e jovens especiais seriam selecionados nos meses
antecedendo à exibição comercial. Isso porque, além de ser um negócio, a feira
é cultura pra caralho.
Mulata de Di
Por ser negócio, a ArtRio não tem pruridos com as
mazelas sociais de nossa formação histórica. Ela convidou pra inauguração
artistas, jornalistas, intelectuais e gente rica. Das mais de 5 mil que
passaram por lá, não havia nenhum negro, como diria e como disse Nelson
Rodrigues se referindo à passeata dos 100 mil em 1968. Pra não dizer que não
havia negros na feira, esclareço com detalhes:
não havia nem mulatos no cais do porto. Vi três negros e um mulato,
digamos assim. Vi duas negras e duas mulatas. E pensar que na Baixada
Fluminense tão próxima, na nossa Zona Metropolitana, existem 3 milhões 900 mil
brasileiros em 13 cidades, ali os negros
e mulatos perfazendo 70% da população. Sim, você pode dizer que estou
exagerando. Talvez houvesse 15, 20 negros. A negritude não estava. Não por
culpa da comissão avaliadora com a Juliana Cintra... Esta mulher, a todo-poderosa julgadora, tem
critérios para o comércio, não panaceia pra escândalos coloniais.
Salve Mary!
Salve Zuenir! O elegante casal Ventura me acenou sorrindo e seguiu entre obras
de arte. Que festa, o Rio é uma festa!
Romero Brito, sempre com camisa vistosa da Seleção Brasileira, deu o ar de
sua graça. Mas não vi nenhum Monteiro de Carvalho ao lado dele.
Tunga, sempre
forte. Vik Muniz na área, sucesso de mídia. Mas verdade seja dita, embora
elite, havia poucos globais na ArtRio. Tenho um palpite: esse pessoal de novela
é meio tosco, faz pastiche de Nelson Rodrigues, ganha as massas na Baixada, mas
não faz sucesso nenhum nas artes plásticas. Repito, Luciano Huck era um ilustre
famoso anônimo. Ele deve ter se sentido muito bem por poder andar no meio da
multidão de estrelas sem ninguém a lhe dizer Loucura! Loucura! Loucura!
Sergio Cabral e Sérgio Cabral Filho também não foram
na estreia. Mas a família no poder apoiou a já poderosa ArtRio.
Guga Ferraz, Paulo Roberto De Sancti, Carlos
Vergara, Waltércio Caldas, Marcio Doctor e Márcio Botner, quanta gente fina!
Bruno Miguel, Affonso Costa, Jorge Coli, Franklin Pedroso, Robson Outeiro,
Damasceno, os irmãos Augusto e Paulo Herkenhoff...
Fotógrafos se destacando em vernissages como os
colegas Ed Sartori (autor de todas essas fotos, todas tiradas dentro da feira ontem, incluindo esta em que ele aparece de chapéu num ambiente vermelho - diante de um espelho - com um bela mulher chamada Fernanda Figueiredo)
e Odir Almeida, este seguramente uma referência no mundo das artes plásticas. No
Brasil inteiro, é Odir o detentor do maior acervo documentando os principais
artistas nas tertúlias visuais.
Ed Sartori e sua amiga Fernanda curtiram as chamadas obras comestíveis, feitas de balas e doces
Cumprimentei o percuciente Miguel Sayad, mas não vi
a sua sócia, a querida Martha Pagy. Também, com tanta gente e tanta arte,
ninguém vê tudo nem todos. Mas a ArtRio tem aquele clima gostoso e chique que
La Pagy imprime na galeria Largo das Artes no esplendor histórico do Largo de
São Francisco... Mas só que na área portuária tudo se dá em escala mega... E o
trottoir geral no calçadão entre os armazéns e o trilho do cais... Meu Deus! É
ali onde todo mundo se encontra, sorri e desfila elegância entre goles de vinho
e água...
E falando
nisso, nessa coisa mais fashion, o que vi de sapato e roupa custando mais de
mil dólares pisando aquele chão de estivadores não está no mapa. Pra não dizer muito mais sobre elegância,
entre as cerca de 5 mil pessoas, vi um único cara de bermuda e um outro pior
ainda, de sandálias havaianas. São Paulo merece isso: tripudiar dos cariocas,
esses “sandaleiros”...
E falando em
Sampa, não vi ontem nem o Ricardo Boechat nem seus amigos Peninha, o Bergamin,
e o Fernandão Carlos de Andrade da Bolsa de Arte. Ah! Esses marchands! Mas Boechat, querido irmão,
convence a tua Veruska e as filhotas caçulas a fazer um tour na ArtRio...
Vi uma elegante diretora do Museu do Açude, a elegantésima
Vera Alencar, vi o papo de Iole de Freitas com Illana
Strozemberg e Luísa Duarte ao lado dela... Sim, ao lado da Vera, a
rainha do legado operístico de Castro Maia no meio da Mata Fechada no Alto da
Floresta da Tijuca...
O crítico-curador Paulo Sérgio Duarte sóbrio, con
quel giusto orgoglio della famiglia... Luisa revelou ao microfone: lá em Milão ele se chamava
André, coisa da ditadura, os anos de chumbo... Muito bom o papo da jovem La
Duarte sobre a Iole, por sua vez com uma fala extremamente racional em seus deambulares do
fazer fenomenológico. Illana Strozemberg escorando a empreitada, o desenho editorial de uma
trajetória. Ouvi integralmente os 50
minutos da mesa-redonda. Depois comprei o livro da Iole, saído da gráfica horas
antes, chama-se “O desenho da fala”, 220 páginas, muitas fotos, 40 pratas. Eu e
mais duas pessoas queríamos um autógrafo. Mas um velhinho, na minha frente, ao
pedir a dedicatória a sua amiga Iole, ouviu da artista: querido, hoje não
assino nada. Eu saí pela tangente.
Escultura ambiente de Iole de Freitas, monumental
Parabéns para
a Suzy, baiana porreta, caprichosamente miscigenada de carioquices e
volteios capixabas, bela, era ontem só
felicidade com o sucesso dos últimos lançamentos como este livro da Iole, que
repetiu agradecimentos de público à Suzy
Muniz Produções...
Sim, nem tudo foi nota dez. A fila pra consumir
água, café ou álcool foi show de incompetência no primeiro dia. Uma long neck
ou latinha a oito reais, tudo bem, podia custar dez, não faria diferença. Mas
água a cinco reais é deselegante. A água podia ser de graça. Curioso, a fila era
de uns 15 minutos só pra comprar a ficha, pro atendimento, não, não havia, era
rapidinho depois de pagar...
Alfredo Herkenhoff diante de painel fotográfico, brincando como se estivesse num helicóptero voando acima da ArtRio
Não vi o professor Henrique Antoun nem o nosso amigo
comum, o físico e poeta Luiz Alberto Machado.
Este colega, há cerca de dois anos, me ajudou a vender uma tela chamada
O Mastro, do pintor José Paulo Moreira Fonseca. Quem
comprou foi o filho do saudoso pintor, pagou um terço do valor do mercado para
recuperar uma pequena joia da família. Fosse outro o interessado, eu não me
teria desfeito daquela bela marina com riqueza pictórica de nuvens espelhando o mar, quadro pequeno, uns 40 por 50, não me lembro, mas
guardei foto no meu computador.
Aliás, eu não
coleciono objetos, eu coleciono memórias.
Correio da Lapa, Rio de Janeiro, 13 de setembro de 2012