ARTE TERRIVELMENTE PREMONITÓRIA
Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa
Minha visão do quadro pintado nos primórdios da ditadura do Estado
Novo... O fundo montanhoso, meio bíblico e meio cheio da mineiridade do
artista, bem Brasil, verde amarelo. é meio apocalíptico.
A flora e a fauna mais
nítidas aparecem em primeiro plano, no
pé da tela e, ao mesmo tempo, este lugar mais baixo parece um penhasco, um
abismo panorâmico, um clima de arca de Noé, como se a vida estivesse por
um fio apocalíptico.
E existe insinuado um
espaço, um vazio meio ovalado onde estão as montanhas de Minas, a composição, e
o nome da obra, Floresta Tropical, evoca Jardim das Delícias, que na
historiografia da arte tem mil exemplos, de Bosch, em especial, aquela fartura
de vida longe de quaisquer restrições políticas e religiosas, mas sempre como
contraponto com o perigo do Inferno que enfim consumou as nossas flores, os nossos
animais e a própria arte na casa de Jean Boghici, arte terrivelmente
premonitória estas flores e bicharada de Guignard, sem nenhuma proteção, tal
qual a Floresta Amazônica, com Monte Belo, tal qual a nação Ianomâmi, tal qual
tudo por aqui... Tacamos
fogo sem pena nem dó, é bala pra tudo e pra todo lado, em gente, na natureza,
na arte...
Rio de Janeiro, 15 de agosto de 2012