Assange,
dois estupros mal contados
e uma execução a caminho
A transa com duas mulheres suecas em agosto passado produziu
o pedido de prisão do fundador do WikiLeaks, o australiano Julian Assange, e o pedido de asilo político na Embaixada do Equador em Londres. Seu
advogado qualificou a acusação de "golpe político" e os admiradores
suspeitam de uma trama governamental por
trás do que seria uma armadilha para Assange. Diariamente se vê em torno da missão diplomática o mesmo cenário: um bloco de manifestantes favoráveis a Assange, um bloco de policiais de plantão e um pelotão de cinegrafistas.
Foto diante da Embaixada de Quito em Londres:
As duas suecas alegaram que não têm nada a ver com o vazamento dos “cables” e sim apenas com a forma como o australiano trata as mulheres.
Os advogados de
defesa sustentam que o caso nasceu em Estocolmo apenas depois que as duas mulheres descobriram
que tinham transado com o mesmo homem com diferença de poucas horas e que o
caso envolve apenas sexo consentido que descambou para o desentendimento por
causa do uso de camisinha.
Assange, quando o caso veio à tona, fez o seguinte
lamento: já fui acusado de tudo nos últimos anos, mas nada tão grave assim.
Segundo o jornal londrino Daily Mail, com base numa advogada sueca, Gemma Lindfield, atuando como promotora da Justiça de Estocolmo, o caso tem os seguintes contornos:
11 de agosto: Assange chega em Estocolmo, onde ele será o principal orador num seminário organizado
por um grupo chamado Movimento da Fraternidade.
O Daily Mail informa que o contato de Assange no seminário
é uma feminista radical que já foi professora universitária num evento chamado "campus
oficial da igualdade sexual." Ele e ela não se conheciam, mas ela convidou
Assange a se hospedar em seu apartamento. A mulher foi identificada pelas
autoridades suecas apenas como “A” de Ana Carla Dascouve.
14 de agosto: Os dois foram jantar e voltaram para o
apê para transar. Durante o ato sexual a camisa estourou. Ana Dascouve depois
diria à polícia que Assange usou o peso do seu corpo para transar e que
portanto ela foi foi vítima de "coerção ilegal".
15 de agosto: Assange fez o seu discurso no seminário
e conheceu outra mulher com quem foi foi almoçar com uma turma de colegas.
Depois o casal foi ao cinema onde a mulher se insinuou dizendo a ele que os
dois já eram “íntimos”. Esta mulher foi
chamada pelas autoridades apenas como “W”, de Wilza Dascouve.
Naquela
noite, Ana Carla Dascouve deu uma uma
festa para Assange em sua casa, depois de twittar se gabando para os amigos,
manifestando sua surpresa de estar com uma das pessoas mais legais do mundo.
16 de agosto:
A segunda mulher, isto é, a Wilza Dascouve, chama Assange e os dois voltam a
se ver em Estocolmo. Eles vão de trem para a cidade natal dela, vão para o
apartamento dela, onde transam. Segundo seu depoimento à polícia, Assange usou
camisinha.
17 de agosto: Wilza Dascouve diria à polícia que Assange
naquela manhã transou com ela sem camisinha
enquanto ela ainda estava dormindo.
18 de agosto: Assange é acusado de ter deliberadamente
molestado Ana Dascouve de modo intencional para violar a sua integridade
sexual.
Logo depois que Wilza e Ana Carla se conheceram no seminário,
Wilza Dascouve afirmou que teve relações sexuais sem proteção com Assange. E Ana Carla, em seguida, disse que ela também
tinha dormido com ele e que depois teria dado telefonemas para sua própria casa
dizendo a Assange que queria que ele saísse do seu apartamento.
20 de agosto: Assange deixa o apartamento. As duas
mulheres vão à polícia em Estocolmo para obter orientação sobre como proceder
com uma queixa contra Assange. Wilza Dascouve queria saber se era possível
forçar Assange a se submeter a um teste de HIV. Ana Dascouve disse que ela
estava na delegacia apenas para apoiar Wilza,
mas também acabou dizendo à polícia que ela, igualmente, tinha enfrentando um problema com Assange na cama.
Uma policial
de plantão, que pode ser aqui mantida anônima com o codinome de Greta Garbo Dascouve, depois de conversar com as duas mulheres,
concluiu que Wilza havia sido estuprada e Ana sofrido assédio sexual.
O caso passou
então a requerer que um promotor público concordasse com as queixas e decidisse
intimar o suspeito de estupro.
21 de agosto: O procurador-geral rejeitou a acusação
e negou pedido de prisão, dizendo: ocorreram apenas delitos pequenos.
Nos dias seguintes, depois de novas queixas das duas
mulheres, um promotor especial reabriu o caso e expediu mandado de prisão contra
Assange.
À esssa
altura, a imprensa caía em peso na história. Ana Dascouve chegou a dizer a um jornal sueco que em ambos os casos o
sexo tinha sido consensual no começo, mas que acabou descambando para o abuso.
"As acusações não foram criadas pelo Pentágono nem
por ninguém”, alegou Ana Carla acrescentando: "A responsabilidade pelo que
aconteceu comigo e com a outra mulher é de um homem com uma visão distorcida sobre
nós, porque ele tem um problema em aceitar a palavra 'não'.
Agora resta a Assange:
Passar 15
anos na Embaixada de Quito em Londres.
Ganhar um salvo-conduto e ir morar no Equador, onde a
Justiça pode reabrir o caso da acusação de estupro, mas jamais entregaria Assange
à Suécia que, com facilidade, o entregaria aos Estados Unidos onde, por acusação
de espionagem, a pena seria tranquilamente a capital, a execução. Por ora, Londres
está anunciando que não vai dar salvo-conduto ao homem que desmoralizou dezenas de governos, botando na internet as mensagens cifradas de embaixadores, presidentes, primeiros-ministros, generais, parlamentares e até mensagens de espiões de todos os matizes, do mundo inteiro.
Assange pode
ser preso por qualquer vacilo na Embaixada ou em seus contornos, pode ser executado
dentro da missão diplomática. Londres, por ora, insinua que busca meios legais
para prender Assange mesmo dentro da missão diplomática, que é território equatoriano.
Assange pode morrer misteriosamente numa rua qualquer no seu futuro como cidadão
equatoriano.
Rafael Correa, o presidente do Equador, é um Hugo Chávez mais
comedido, não é impulsivo. Ele pensa muito antes de tomar as decisões mais
loucas. Ele sabe que Assange protegido contra os serviços de inteligência de
Washington lhe rende preciosos votos para a reeleição.
Para nós, latinos,
mal educados que somos com aquele clichê de que na Suécia existe o amor livre, as duas mulheres,
que convidaram o estrangeiro famoso para transar em suas casas, estariam ignorando
a máxima que diz: ajoelhou, tem que rezar. Acenderam o pavio, brincaram como a
Monica Lewsinsky brincou com Bill Clinton e descobriram que o salão oval não era tão
confortável assim. Mas Monica não se queixou. Fez, gostou e fez acordo com o
acusado acuado. Ela faria tudo de novo. Hillary perdoou a pulação de cerca do
marido em plena Resolute Table, a histórica mesa de trabalho de tantas decisões
históricas de chefes dos Estados Unidos.
Mas americanos
não perdoam espiões nem traições. Assange é um homem marcado para morrer.
As duas
suecas, bem, não creio que estejam tão traumatizadas. São profiláticas. Disseram
ambas: não, sem camisinha não, mas o negócio já estava escorregadio. Uma delas
disse, não, agora não, estou com muito sono, mas a chama já estava acordada.
Assange errou
sim. Ele sabe disso. Mas não sabemos, ainda ao certo, com bases nessas informações
preliminares, a coisa corre em segredo de Vara de Justiça, se o crime foi tão
grave assim como pintam.
É bem possível
que Assange, se Londres não puder impedir a sua saída, venha a trabalhar para o
governo do presidente Rafael Correa. O Mister Wikileaks sonhava em ser senador na Austrália. Assange, embora fomado em ciências exatas, notabilizou-se por divulgar a melhor notícia, as mensagens secretas dos governantes do mundo.
E aqui de
novo repito o meu bordão: jornalista não tem que se meter em política. O jornalista é um ser
político, investiga e tal, mas, se entrar no jogo da safadeza pública, na roda dentada, fuuudeuuu!
Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa
Rio de Janeiro. 16 de agosto de 2012