O Presidente e sua candidata recauchutada, juntinhos e agarradinhos, em campanha eleitoral explícita, aproveitam qualquer evento para propagar seus feitos e disparar promessas ao léu. A de agora, tonitruada aos quatro ventos, depois do PAC emperrado, é o plano habitacional, um milhão de casas sem, contudo, fixar tempo de execução, ou seja, pode levar dois anos ou duzentos, mas o pessoal se satisfaz com o aceno da possibilidade longínqua e que pode sair de graça. Há melhor jogada de marketing para recuperar os pontinhos perdidos na última pesquisa?
Nada contra construir casas populares, sou inteiramente a favor, mas tenho dois dedos a mais de instrução e sei que as palavras voam, agradam, disfarçam, enganam, perdem-se no dia seguinte, daí perguntar humildemente que, se há projeto, onde estão o planejamento, os cronogramas, os recursos e, fundamentalmente, o prazo porque, sem data limite, não existe projeto verdadeiro, não há cálculo de custos, fontes de financiamento, é afirmação vazia, apressada, demagógica, é a ilusão do “bolsa-teto”, um bombom para a população sofrida.
Ainda se discute que empresas participarão, numa mistura de estatais e particulares, governos estaduais e prefeituras, em que terrenos se erguerão as habitações decentes, condições de pagamento e, principalmente, se haverá infra-estrutura traduzida por água encanada, energia, gás, saneamento básico, asfalto, arruamento, transporte, comércio e mercado de trabalho próximo. Não vi qualquer linha ou vocábulo a respeito, continuo esperando se será para valer ou mais um engodo de tantos já alardeados e convenientemente esquecidos.
Peço licença à chefia por permanecer rabiscando sobre Sua Excelência que sempre fornece assunto e como não lê, “para não ter azia”, não se incomodará com meus modestos comentários. Ao criticar membros da Polícia Federal, Ministério Público e do Judiciário por darem entrevistas, soltou a frase lapidar: “Deixe nós, políticos, aparecermos na TV”. Que festival! Ao se dirigir a vários criticados, deveria usar “deixem” e o pronome correto seria o oblíquo “nos”(sem acento) e, ainda, com os verbos “mandar, fazer. deixar, ver, ouvir e sentir” o infinito não flexiona, daí o certo é “aparecer”. Como isto é matéria de uma série acima, o desculpo e aceito, mas não o perdoo por me colocar na alça de mira, tendo em vista que sou “gente branca e de olhos azuis” e, para piorar, alourado...
Desconheço se os banqueiros da Nigéria, Angola, Ruanda e demais países africanos são brancos? Na verdade, a declaração é preconceituosa e racista (bem como deselegante ao ser proferida na frente de um convidado britânico...), enquadrando-se na Lei 7716 que, em seu artigo 1 (mudei de computador, não sei onde fica o “zerinho” sublinhado...) diz: “Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Sua Excelência é um réu confesso...
Estou indo para a segunda página! Peço desculpas, exagerei, não sou comentarista político, mas um cidadão indignado que fugiu de sua obrigação de falar sobre educação que anda tão confusa como tudo neste país, Causou-me espécie ler entrevista da Sra. Presidente do Conselho Nacional de Educação, onde têm assento os “grandes pais da pátria”, “os senhores supremos da educação”, escolhidos regionalmente e mediante forte empenho de partidos, associações, ministérios, todos querendo sua fatia de prestígio. Por vezes são setenta pré-selecionados para uma vaga, evidenciando a luta sangrenta por uma cadeira. Se ainda fosse para o bem da educação se compreenderia, mas como não é, lamente-se. Estamos bem servidos...
Espantaram-me as palavras da Sra. Presidente ao falar sobre ensino médio (que, pelo jeito, desconhece...) expressando o óbvio mofado. Guardo o tema para a próxima semana quando entraremos em abril...
* - Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida
Nota do Correio da Lapa
Este é o primeiro de uma série de artigos do Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida para este blogue-jornal. Conhecido por travar uma luta incansável para ampliar e melhorar os investimentos públicos e privados na educação, como meio de desenvolvimento do Brasil, o autor é professor da Universidade Cândido Mendes. Escreve há anos para o jornal Folha Dirigida (FD), que se dedica primordialmente a temas como educação, cursos, concursos e empregos. O professor também prometeu ao Correio da Lapa discorrer sobre a reforma ortográfica. Por tudo isso, por este artigo e pelos próximos textos - originalmente voltados para a FD - , somos gratos ao eminente mestre, agora também colaborador.
Alfredo Herkenhoff